terça-feira, abril 20, 2010

Como está vestido o teu jardim, Fausto?

Hoje o meu jardim vestiu-se de verde só para mim. Saí cedo de casa, ainda estremunhada pela normal correria matinal e ele sorria, tranquilo, com o seu manto verde claro.

Corri por entre as árvores com a mala numa mão o cesto cheio de livros e acessórios noutra e ainda os miúdos a resmungar com as mochilas que nunca se ajeitam sozinhas, com as horas de sono que durante a semana sabem sempre a pouco e com o meu passo a compasso da minha agenda, sempre atrasada... Entrámos no carro lutando com as bagagens e os cintos e partimos, tentando fugir das velhinhas que nos atrasavam o caminho até à escola.

Voltei atrás depois de me aperceber que um dos principais acessórios das histórias não estava comigo, e foi a meio do jardim que o encontrei, aliás ele é que me encontrou e se mostrou a mim. Por entre ponteiros irrequietos e horários por cumprir, vi-me parada debaixo duma laranjeira que o meu jardim preparara para mim, com perfume e pequenas flores para me alegrar o dia. Olhei em volta, com os sentidos em alvoroço com o aroma das flores e vi-o sorrindo, dizendo "bom dia", em cada pequena folha verde que acenava nas copas das árvores.

Sentei-me num banco e, aliada dos carros e das pessoas que apressadas corriam atrás das horas, sorri-lhe de volta, num "que bonito que estás hoje!" a que ele respondeu com uma leve brisa matinal cheia de paz e daquela tranquilidade que só os jardins e as árvores têm porque crescem com a certeza que "atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir" e que, por isso, a Primavera chega sempre e, ainda que atrasada, enche-nos de aromas e flores coloridas com que salpica os dias.

De repente lembrei-me dos ponteiros e das horas e dos compromissos que se aproximavam em grande velocidade, e do porquê do meu regresso. Tinha voltado atrás à procura de um acessório importante para as histórias que tencionava contar, como o pato que não sabe nadar sem o pauzinho que o segura ao céu, e afinal estava tudo ali, naquela paz, naquela tranquilidade que se inspira e depois se transporta connosco e se partilha com quem nos ouve.

Hoje o meu jardim vestiu-se de verde para mim, e eu, alegre com a surpresa peguei no seu aroma, cor, vivacidade e levei-o comigo no meio de um conto!



Liliana Lima



Com a canção "Atrás dos tempos" de Fausto no ouvido, aqui numa curva antiga...